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Regressar à agricultura ecológica

       

        O nosso tempo é de muitas e complexas mudanças.
Para além da crise financeira que, de tanto repetida e não solucionada corre o risco de desacreditar instituições económicas e políticas, existe a crise alimentar mundial.
        Quem escutou, vezes sem conta, lamentos de homens e mulheres do campo, apercebeu-se das críticas que eles faziam à política agrícola comum europeia. Exprimiam-se de forma simples, condenando o abandono dos campos e da pequena produção de bens alimentares, pressentindo que a mudança para a produção agrícola intensiva não viria dar bons resultados.
A transformação de terrenos em pastagens para alimento de milhares de cabeças de gado leiteiro, acompanhada de importantes subsídios à lavoura, podem ter trazido benefícios pontuais, mas agravou os problemas resultantes do excesso de produção.
        Foi contra esta visão parcelar e imediatista que os antigos agricultores, homens da enxada e do arado, na “sua ignorância”, se manifestaram. Todavia, ninguém os ouviu.
Recentemente um funcionário da ONU avisou que “nos principais países produtores de cereais, a superfície cultivável atingiu, praticamente, o seu limite máximo”.
        E acrescentou: “o aumento do preço do petróleo e a seca, farão disparar os produtos alimentares em mais 20%, até ao final do ano”.
2011, segundo a FAO, vai ser um ano de crise alimentar.
São más notícias para as populações mais pobres, afetadas pela seca e pelo subdesenvolvimento.
        Há países que pretendem ultrapassar a falta de alimentos com o aumento da produção agrícola. Mas os técnicos da FAO dizem que essa não é uma visão de futuro. ”A solução não está no atual modelo agro-industrial, mas no modelo eco-agrícola.”
        Também para nós, não se augura tempos fáceis, pois dependemos da importação de cereais para o pão e rações, da importação de legumes, fruta e outros bens de primeira necessidade que, há anos atrás, medravam sem produtos químicos, nas ladeiras e nos quintais ao pé de casa.
          Esses terrenos, hoje, ou estão ao abandono e são pasto de faias, incensos, ou dão erva para os animais, cujo valor baixou devido ao excesso de produção.
          Felizmente, muitos prevendo a crise, retomaram a enxada e começaram a cultivar as suas hortas que sempre lhes deram novidades e o sustento de todo o ano.
        Ainda há dias, em fim de tarde, numa movimentada estrada da periferia de Lisboa, em terrenos públicos desaproveitados, vi e apreciei algumas hortas bem trabalhadas. Lá andava, no seu bocadinho, um homem curvado à enxada, cuidando das suas sementeiras, indiferente ao barulho e velocidade do trânsito que rolava ao seu redor.
        Este país tem tanta terra abandonada mas fértil, onde outrora hortas, pomares, cearas e milheirais, foram um pobre sustento, é verdade! de milhares e milhares de famílias!...
        Oxalá as crises alimentar e financeira sejam potenciadoras de uma mudança na agricultura, rumo a uma economia nova, que vise a promoção dos direitos de todos e a preservação da natureza e do meio-ambiente.

 

 

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